segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Aqui, de passagem...



Com quantas perdas se constrói o ser humano?
Qual o prazo definido para cada sorriso e o limite preciso de cada estoque de lágrimas?
Com quantos dias ele se reconstrói?
Há tempo para isso? Se a vida prossegue enquanto tenta-se digerir cada partida. Se o mundo não pára de girar enquanto tenta-se apagar cada momento importante que não existe mais.
Ninguém nasce sabendo que a vida é uma estrada de retalhos unidos pelo desassossego. Ninguém nasce sabendo que a vida é um quebra-cabeça em que sempre fica faltando uma peça e que, mesmo assim, o jogo sempre está completo. A moral da história sempre chega entre uma e outra cartada, entre uma e outra tacada. Não que tudo seja um jogo: nós não somos marionetes. Não que tudo seja perda, há ganhos também. E perdas, e ganhos, e perdas, e ganhos… intercalados obedecendo a Lei do Equilíbrio Universal. Se hoje chove, amanhã fará sol e, depois, choverá novamente.
Temos vida própria e livre-arbítrio. E seguir é muito mais difícil quando descobrimos isso, quando sabemos que nem tudo é destino. Que destino só se cumpre no conceito de que um dia tudo se vai, de que um dia tudo vem, na mesma velocidade. De que a água nunca fica parada. O rio lá permanece, mas a água nunca é a mesma, porque corre, renova-se o tempo todo. Nessa corrida, quem parte não é vida, ela é apenas o nome dado ao processo.
O significado de experiência e sabedoria advém da capacidade humana, emocional e física em suportar perdas, lidar saudavelmente com vitórias e sentir o ambiente, ler o comportamento do outro. Quanto mais velho, mais a mochila fica cheia. De quanto em quanto tempo devemos esvaziá-la? Poupar a dor nas costas não significaria recomeçar do zero e arriscar repetir os erros?
A roupa da partida nunca será igual à da chegada. O mais bonito é vê-la despedaçada com cheiro de combate. Porque o céu não gosta de máscaras nem véus. É preciso despir-se para entender o que há acima de nossos corações, o que rege tudo. Quanto mais despedaçada a vestimenta após o combate, mais mostra-se o corpo. Afinal, com tanta sabedoria não é necessário esconder-se, proteger-se.
Nem é preciso carregar a volumosa mochila. Largue-a no rio que corre e deixe-a ir… deixe-a ir… deixe-a ir… Traduza-se em desapego.
Só assim teremos uma idéia de quantas perdas constroem o ser humano… e com quantos dias ele se reconstrói… (“eternidade”, suspira o anjo… “com a eternidade…”)

Texto de Paloma

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