quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pipocas da vida...







Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.
Assim acontece com a gente.

As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não
passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma
mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu
jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo.
O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a
dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a
mãe, perder o emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico,
medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há
sempre o recurso do remédio: apagar o fogo!

Sem fogo o sofrimento diminui. Com isso, a possibilidade da grande
transformação também.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez
mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer.

Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um
destino diferente para si.
Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela. A
pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo
poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece como
uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia
sonhado.

Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a
estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se
recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa
do que o jeito delas serem.

A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No
entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira.
Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar
alegria para ninguém.

Pense nisso !!


Extraído do livro "O amor que acende a lua" de Rubem Alves.

Um comentário:

  1. É muito lindo!!!! Já conhecia ... Gosto de ler bem devagar pq vale a pena !!!!
    Beijo Jacque Escocard

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